segunda-feira, 4 de março de 2013

Vagabundos s.a.

Precisamos reconhecer que há, de fato, dois tipos de vagabundos. Os vagabundos comportamentais, que tornam qualquer ócio sua maior atividade. Há os vagabundos intelectuais. A respeito deste, ainda estou tecendo sua fisiologia, que logo mais lançarei.

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Era de barbárie

Ainda se vive em tempos de barbárie, pelo menos na Estância Climática do Brasil, a Terra de Papagaios, a Ilha dos Papagaios, Terra de Vera Cruz, etc. Interessante é por-se a pensar o que teria mudado desde os tempos da economia de pau-brasil até os dias de hoje no que se refere a Justiça e sua efetividade. É possível encontrar marcas de uma sociedade dividida em classes estagnadas, estamentos, talvez, e isto interfere diretamente na culpabilidade e no que se diz Cumprimento da Lei. 
Em alguns eventos recentes tem se visto a ação plenamente arbitrária da Alta Corte em decidir o que seja gravíssimo ou o que não o seja. O que influi nesta decisão, claramente, seria o acusado que, evidentemente, não pertence à camada mais inferior da sociedade, a camada mais volumosa, as pessoas normais sobre as que a Justiça, de fato, age fria e cegamente. Também é valioso verificar que, alimentando a ideia de barbárie, se define o que seria importante julgar grave e o que não o seria. E, de acordo com o que se pensa como crime físico, a associação de evidências e suas somatórias acaba por legitimar uma culpa e, então (ENTÃO!), uma penalidade. Novamente, no que diz respeito a crimes físicos, a coisa fica evidente e, portanto, legítima; porém, no que se confere em crimes ideológicos e mais abstratos, como a evasão de divisas, as fraudes, as sonegações, as corrupções em si, o peculato, etc., a decisão de se incriminar ou não o fazer fica em critério de se avaliar outra variável judicial: o sujeito.
O ente sujeito seria, em tese, responsável por suas ações e, tanto quanto, por consequências cujas causas sejam elas. Portanto, sujeito não seria uma variável para que se ponha análise: ele o é pela ação e, sim, esta se analisa também por sua legitimidade comprovada, intencionalidade, que nela se aplica por histórico e/ou por depoimentos de outrem.
Não se faz nestes meios citar nomes, uma vez que o sujeito não seja importante para que se tome exemplo e que "Justiça seja cega" e não estroboscópica. Este texto só se faz necessário para que o leitor possa se atentar para o que se define na teoria e o que se define na prática da justiça do Brasil. Faz-se preciso também atenção ao fato de que a ação da Lei se faz mais densamente nas camadas mais baixas da sociedade e, nas mais altas, se aplica sem intensidade ou, quando sim, simplesmente sem efeito. Estaria a Justiça a ser comparada com a densidade atmosférica dos gases? Então podemos verificar que a burguesia vive em barbárie e os civilizados somos nós, mesmo que as leis sejam para diferenciar quem as faz de quem as segue, de quem as canta e de quem as dança, de quem ri delas e de quem as critica.

BBB e Parnasianismo

Chego à conclusão do seguinte. O tal do Bigue Bróder é cultura. Trata-se de um retorno ao Parnasianismo Brasileiro: muita forma bonita, a exaltação da estética bem demonstrada, valorização de musas e o conteúdo extremamente insignificante. Ou seja, é o entretenimento por ele mesmo, sem qualquer outra preocupação, é mostrar por mostrar.

Quer saber mais sobre Parnasianismo, assista àquela joça e faça seus paralelos.

Big "Bother" Brazil

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

2012: BEIJINHO, BEIJINHO, XAU, XAU

Lá se vai mais um ano recheado de acontecimentos marcantes e falsidades. Promessas do réveillon passado se frustraram na correria do cotidiano de 2012, assim como já acontecia ano após ano, todos os anos. Certamente as pessoas que pulam sete ondinhas devem sempre pedir as mesmas melhorias no decorrer dos anos. Mas por que isso ocorre? Penso que é porque as pessoas achem que a responsabilidade de realizar se baseia apenas e pedir e não fazer. Há alguns anos já não peço nada, simplesmente desejo aos amigos.


2012 foi o ano da maior brincadeira de mal gosto desde 1999. O fim do mundo não aconteceu e a televisão sacaneou todos com suas programações de fim de mundo. O mundo não acabou, todo mundo ficou com medo e, mesmo assim, os idiotas continuam consumindo informações imbecis que representam 99,9% do que é veiculado por toda a mídia aberta no Brasil e também no mundo. O décimo restante que não é conteúdo imbecilizante é o Colorbar.

Foi ano de eleição para prefeitos no Brasil e presidência nos EUA. A quantidade de idiotas que se candidataram foi enorme, e alguns deles foram eleitos. Algumas múmias caíram fora do mandato, algumas se mantiveram, continuando seu prazeroso trabalho de bonequinhos da maçonaria - por sorte isto não se aplica a Rio Claro.


Neste ano que termina houve a reviravolta dos integrantes do Pcc que ameaçaram a civilização paulista, saqueando, vandalizando e assassinando. Não me admiro com as notícias que se passam sobre isso. O que mais me impressiona é a visão dramática que a mídia coloca em atitudes milenares do ser humano. O Estado quer uma população amedrontada e não pessoas ativas. O que você pensaria de um governo em que a polícia é assassinada em casa? Enfim, a questão do Pcc é muito mais fácil de se resolver, no meu ponto de vista, mas aí seria necessário deixar os direitos humanos no porta-luvas, mas resolveria. As cadeias superlotadas, com homens pensantes lá dentro e desocupados líderes de quadrilha são o berço de toda esta baderna, enquanto há seres não pensantes ocupando cadeiras super importantes nas câmaras do país todo, inclusive no Supremo.

Só o que desejo à maioria das pessoas que considero intelectualmente fracas é que sejam menos burras no ano seguinte, mas isso não falo abertamente, porque falar que a pessoa é burra é bullying e eu posso ser preso por tentar ajudar a pessoa. Chamar alguém de burro é algo que me deixa engasgado boa parte do tempo. Não chamar alguém de burro ou imbecil impede a pessoa de melhorar, e é exatamente isto o que o governo quer, uma verdadeira besta. E lá se vai mais um ano de bestas desvairadas encoleiradas.

2012 foi mais do mesmo e 2013 vai dar continuidade à saga dos imbecis.

*

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Carta aberta ao Boca do Inferno, a carta que não chegou.

Rio Claro, 31 de outubro de 2011.


..................................Caro amigo Gregório de Matos Guerra, 

Tu és o legítimo homem, mais do que Hamlet o foi
Um legítimo homem, tão andante quanto Dom Quixote
O mais contra si mesmo
Em tua auto-defesa:
A voz dos idiotas
Um solitário amotinado
Palavras cuspidas numa tempestade verbal
Sem amigo, sem destino;
Quem te daria abrigo, inimigo da Bahia?
Eu, eu dar-te-ia uma pena e um papel,
Porque tu, ó Boca do Inferno,
Falavas o que ninguém ouvir podia.

Sossega, Nhô Gregório, Salvador não tem mais jeito.
Falta verdade, honra, vergonha e mais o que lhe ponha?
Não escarnece a vida que te foi dada,
Nem o povo que te ignora,
Só faze como eu,
Pede pelos tais a Deus:
Pois, que grande falsidade, desonra e sem-vergonhice
(as que vejo agora pelo facebook)
Ardam no mais profundo fogo e densa flamba decaída.

Um abraço do amigo um pouco mais moderno
Felipe Costa
FCC

terça-feira, 30 de agosto de 2011

AGOSTO



O fim de Agosto 

é o alvorecer 

da mais tenra vida úmida e fresca

o fim da crisálida seca e dura

silenciosa e deprimente

chamada Agosto



(Felipe de Camargo Costa, agosto de 2011)

domingo, 12 de junho de 2011

Fisiologia do Diálogo

Com quem falar –

Falar com certas pessoas pode ser uma atividade cansativa e desagradável. Evite essas pessoas porque isso ajuda a conservar o bom humor e a boa consciência, levando você a não perder a paciência com facilidade. Converse com pessoas agradáveis e confiantes.

Lembro-me com exatidão da circunstância em que me encontrava. No saguão de um prédio comercial. Eu conversava com a balconista, quando a desagradável veio e interrompeu a conversa. Os motivos que levam alguém a interromper a conversa de outras pessoas devem ser sempre importante ou de grande urgência, mas neste caso foi diferente. A pessoa, que prefiro não revelar, simplesmente chamou minha atenção para o fato de eu estar com a gola meio torta, como se eu fosse criança. Em seguida, após a arrumação, voltei a perguntar para a atendente sobre os horários de atendimento do doutor em questão, um nefrologista. Por alguns instantes a conversa até fluiu, exceto quando, pela atitude desagradável novamente, precisei parar o pensamento para voltar-me para a esquerda e ouvir a lamuriosa voz falando sobre a graxa dos meus sapatos para sábado, num casamento, a qual eu não poderia me esquecer de comprar.

Muitas pessoas têm capacidades infinitas, praticamente, de pensar em diversas coisas ao mesmo tempo. Essas mesmas pessoas não têm bom senso em perceber que outros não têm essa capacidade.

Naquele momento em que fui interrompido novamente, como se fosse um vulcão, eu quis explodir sobre ela. Tive calma e disse que depois veríamos isso.

Por fim, levei cerca de oito minutos para saber sobre um encaixe de consulta médica, enquanto que, em instâncias normais, isso se leva cerca de dois a três minutos, no máximo. Além disso, não tive mais vontade de conversar com a desagradável durante o dia todo, pois ela conseguiu me tirar do sério duas vezes no prédio e, não bastando, fomos comprar graxa e ela perguntou se eu achei a atendente do médico bonita e para que dia e hora tinha sido agendada a minha consulta. Mais uma vez, no mesmo dia, a paciência fora testada.

"Axioma I - falar com pessoas desagradáveis e desgostosas é um momento de auto-flagelo que deixa sequelas."

sexta-feira, 22 de abril de 2011

22 de abril de 1500, está começando o Fantástico (Brasil-Máquina)

Uma data especial: 22 de abril de 1500, 
dia do Descobrimento do Brasil 
por Pedro Álvares Cabral, 
ilustre capitão mercenário 
contratado pela coroa 
para roletear 
pela oceânica rota das Índias. 

Um Zé Sugismundo 
de bigode engraçado 
comandava a expedição, 
mas não sabia nem amarrar 
uma tira de couro em volta da cintura. 
"Terra à vista...", disse um gajo lá de cima. 
Quando viram, já tinha até nativos a bordo. 
Um oficial da frota disse a um nativo 
que estava a bordo: 

- Ei, que onda é essa, ô meu? - 
virou-se para o amigo e completou à parte 
- este gajo tem pancada.

Neste momento o nativo respondeu:
- Em hospitalidade nós não temos limites.

E lá se passaram 511 anos 
desde este memorável café 
da manhã de Cruzeiro. 
Os bonachões caras-pálidas descobriram 
um puta de um latifúndio 
habitado por seres agradáveis: 
resolveram inventar 
e fazer funcionar
um negócio chamado Brasil, 
por causa do pau-brasil. 

Aí funcionava da seguinte forma: 
os portugueses mandavam 
e os nativos faziam, 
e assim foi durante algum tempo. 
Depois trouxeram negros da África 
pra agilizarem os trâmites 
do Brasil-Máquina.

Nossa, rolou de tudo.
Cana, ouro, madeira,
especiarias, bandeiras,
casas de fundição, povoamentos,
disputas Portugal-España,
Tratado de Tordesilhas, escravidão,
invasão holandesa, francesa, inglesa,
UFOs, Quinta da Boa Vista, Família Real,
quilombolas, folclore, imigrações,
independência, Plano Collor,
Derrama, Diretas Já!, AI-5,
Viviane Araújo
e mais um monte
de outras coisas nojentas.

Já deu pra ter uma ideia
de como funciona por aqui?
Então, 511 anos de Brasil-Máquina,
inventado por Portugueses.

A autoria do manual e termo de garantia
é de Vaz de Caminha.
Foi uma pena ele não ter deixado
o número do SAC ou o e-mail de contato
 em caso de problemas de funcionamento.
Também vacilou em não trazer anexa
a listagem de Assistência Técnica
para troca de componentes:
é por isso que tá no que tá hoje,
sem a menor manutenção
há 511 anos

Só pra finalizar,
não é de todo mal esta Máquina,
é bonitinha e agradável,
pena que funciona mal.
Única vez que mudaram
foi um lance no painel de comando:
era monarquia
e puseram república,
uma peça grega
que veio adulterada de Roma.
Meio que melhorou um pouco
o rendimento da máquina. 

Depois dessa mudança,
só gambiarras e cambalachos
sem dó nem piedade.
Mas é bonitinha e agradável,
e só também
há 511 anos.
É um prazer revê-los. Pessoal, estive foragido e, por isso, não pude escrever por aqui. Mas agora acho que é necessário correr atrás do prejuízo: o que de melhor e de pior aconteceram durante essa estiagem de postagens no PROFISSÃO.

Orgulhosamente, gostaria de parabenizar os que diariamente visitam o PROFISSÃO há quase 1 ano e, mesmo sem novidades por aqui, continuaram aguardando a chegada de novos textos. Muito obrigado pela paciência, pois estamos devolta.


Parabéns aos indígenas que sobreviveram também, 511 anos de perdas.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Dia de sol e uma jornada intrépida

Primeiro: parar o meu ônibus, sinal vermelho. Tshh! Parei. Meus passageiros arquearam para a frente por inércia. Coletivo lotado. Alguns em pé, a assediar corrimãos de segurança do interior do ônibus. É isso o que eu vejo pelo espelho interno. O cobrador, ao que me parece, enfastiado de tanta rotina: cansei de olhar sua tintura vinho dos cabelos, corte espalhafatoso metido a Charles Bronson de quitanda – o problema maior foi tingir os cabelos e deixar de lado o tal bigode quase grisalho – enquanto ele separa por entre os dedos as notas do caixa de catraca, a entreolhar, por vezes, os passageiros e ameaçar corresponder com “oi” a algumas cruzadas de olhar que se davam entre ele e os pagantes de todos os dias – todos familiares, nenhuma novidade.

Durante a conferência inútil do conteúdo do veículo que guio, o que dura aproximadamente um segundo e meio, recolho a marcha do câmbio novamente ao ponto neutro. Dirijo-me a vista ao lado de fora, para ver as novidades automobilísticas no tráfego ao redor. Nenhuma novidade. Vejo o painel de instrumentos do meu veículo de transporte coletivo da rede municipal. Tiro com o dedo mínimo esquerdo o pó dos entornos do acabamento em alto relevo do visor do velocímetro. Analiso o que há no dedo, algo maior: um mosquitinho de pernas para o ar, morto. Passo o dedo no trilho do vidro aberto para limpá-lo do mosquito e eis que vejo que ainda faltam vinte e sete segundos para que se libere a passagem neste sentido da via. Isso, mais uma vez, não é novidade.

Bom, vinte e sete segundos suficientes para pescar algo novo de dentro do universo impresso do caderno de um jornal porque, pelo Amor de Deus, acho que ainda enlouqueço dentro dessa máquina se eu não vir alguma coisa nova. E o jornal está dobrado ao lado do banco, à esquerda, ao lado da garrafinha de água. Do lado de fora a única coisa que é nova é um carro branco que parou imediatamente ao meu lado com uma placa de outra cidade do interior de São Paulo – mas isso também não é novidade suficiente.

Abro o jornal sem culpa, faltam vinte e cinco segundos. E me vem uma ardência no nariz, talvez por causa de um perfume irritante de passageira = non-sense + suor². Mas não vai dar tempo de espirrar e tirar o lenço e, espirrar por causa de perfume, para mim, não é novidade. Prefiro ler o jornal, é muito mais negócio. Vejamos o que há...

Colisão entre trem e caminhão na Índia causa 30 mortes: isso não é novo! Plataforma Barra Funda do metrô está abarrotada: ah, isso não é novo! Aeroporto opera sem problemas nos check ins: fascinante! Natal bate novo recorde no terciário: isso é clichê! Calcula-se que na última quinzena de dezembro choverá pelo mês inteiro: grande coisa! Brasília tem dias de sol e temperaturas elevadas em meio a temporada de chuvas: ah, isso é típico! Coroinha de igreja do interior cai e derruba o microfone do padre em missa de domingo: isso não é novidade! Dançarina de axé é pega traindo o marido e perde o rebolado: sem graça! Bom, depois eu termino de ver as manchetes, faltam dois segundos e já me sinto feliz por ver que ainda há novidades por entre as rotinas. Mas quero mais novidades, novidades. Dobro o jornal novamente e guardo ao lado do banco. Confiro mais uma vez o retrato pelo espelho: os passageiros emburrados de calor, o cobrador apara as unhas com uma mini-tesoura articulada dobrável. Novamente, tudo certo.

Embreagem, câmbio alavancado para o engate da primeira marcha lenta: olho no semáforo, um segundo exato... Verde! Pé na tábua, agora ninguém sobe, ninguém desce até chegarmos à Via Norte-Sul. Vrum-Vrum.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Pá e bola 4

[...] O Twitter presta um desserviço ao processo social na medida em que estimula as pessoas a seguirem líderes, quando deveriam seguir a si próprias.

por Eugênio Trivinho, para a ISTOÉ, entrevista sobre Inclusão digital. Grifo meu.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Pá e bola 3

Gente, alguém sabe onde está o Bin Laden?
Bom, eu sei onde ele não está. Ele não está nas ruas do Rio de Janeiro. No bueiro, levando umas férias de Tartarugas Ninja, pode até estar, mas nas ruas, definitivamente, não está.
Será que eu posso dizer isso no Disque-Denúncia? 0800-WHERE'S LADEN. É "de grátis..."

Fique atento, povo brasileiro: se sair alguém de turbante pelo ralo, spray de pimenta no safado. Ainda não existe barata com tatuagem do Beiramar.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Pá e bola 2

É preferível falar do extermínio dos traficantes dos morros no Rio de Janeiro a ver o narcotráfico todos os domingos, às 20h30min na tv, mesmo que isso seja sangrento (como se nada na história o fosse).

O mais forte, neste caso, vencerá!

Este foi um comentário feito a respeito do texto "Não haverá vencedores" de Marcelo Freixo publicado no Folha de São Paulo deste domingo, 28/11/10. Segue o comentário.

Fala-se muito em Direitos Humanos e nunca se fala em AÇÃO. A sociedade brasileira está saturada de ''Cartilhas'' daqui, "Cartilhas" dali. Do judiciário, então? Nem se fala. De políticas? Absurdamente utópicas, nada para se por em prática. Fala-se muito em Direitos Humanos (novamente). Fala-se muito. Só se fala. As diferentes etapas e crises sociais pelas quais o nosso país passou têm suas peculiaridades: Direitos Humanos sob outros aspectos. Hoje, fala-se demais. Falam demais principalmente as pessoas que são a favor de sempre entrar em acordos, todavia, NÃO HÁ ACORDOS COM GRUPOS FORA-DA-LEI.

O principal objetivo do narcotráfico é o lucro e o vício, bem como fizera a Inglaterra com o ópio durante um certo período histórico; bem como se faz todos os dias com os "ópios do povo" (bem se sabem quais são). Resta saber se o autor do texto ao qual é feito este comentário concorda com as "políticas de funcionamento" do narcotráfico ou não, porque ao que se sugere sobre a intenção, é notada uma ponta de concordância entre crime organizado e Direitos Humanos. Mais uma vez, a fala demasiada, "embromatória" que tende a evitar derramamento de sangue. Veja-se que é dever do Estado e da nação proporcionar o acesso à saúde e não aos entorpecentes. Veja-se, mais uma vez, que o autor do texto ao qual se replica este defende (mesmo que com ressalvas) a atitude criminal e violenta do vício de ilícitos. A tal atitude (um vexame verbal de compreender e, em certo aspecto, incentivar o tráfico de tóxicos) pode-se dar a nomenclatura de conivência.

A conivência é a aproximação da omissão, uma incapacidade de sugerir a melhoria. Bem se vê, por quaisquer olhos que sejam possíveis, que as políticas de paz com narcotraficantes não impediram a perpetuação do sistema de venda e distribuição de drogas no Brasil. E é fundamental para quem objetive a saúde pública que se permita a eliminação de tais traficantes e afins. É imprescindível na cidade do Rio de Janeiro, através da ação militar, a anulação da presença de mercado de entorpecentes. Faz-se importante a captura (quando não a morte) de líderes do mercado negro.

Os Direitos Humanos estarão assegurados, sim, aos seres humanos, e não aos marginais assassinos que compõem a massa néscia dos verdadeiros vilões: os soldados do tráfico e seus mandantes. Ação militar com fins sociais é a busca pela paz. Violência é ficar sentado no sofá: deixando-se consumir pelo tempo que passa.

sábado, 27 de novembro de 2010

O Rio de Janeiro continua lindo - Leblon, Tijuca e Faixa de Gaza.

Alguém há um tempo já cantou que o Rio de Janeiro continua lindo. Direi por que com a ação do exército nas ruas da ex-capital nacional o Rio continua a mesma coisa e do qual não se muda uma vírgula.

Sempre se souberam dos narco-problemas fluminenses, sempre. O Rio de Janeiro é um lugar onde o abismo entre ricos e pobres é surreal e secular. Desde quando as pessoas começaram a se alojar nas encostas dos morros da capital do Brasil, há dezenas de décadas, viu-se instalar um contraste rico-pobre tão pior quanto o próprio problema do saneamento básico do século passado: era uma desgraça à saúde pública. Contra as doenças muito foi feito desde as primeiras vacinas e a adoção de procedimentos preventivos contra as mais diversas doenças urbanas, que em sua maioria era causada pela água sem tratamento adequado e pela crescente populacional na província da Guanabara: afinal, tratava-se da capital, portanto, uma pólis promissora. Mas e contra a pobreza? Algo foi feito? Claro que não, porque não tem jeito. Não tem jeito porque quando alguém lucra 1 real, alguém fica sem 1 real; logo: se algumas pessoas são milionárias no Brasil, muitas outras estão ainda procurando o seu pardal. É uma regra de três super simples. Fica claro que não se pode resolver o problema desse tipo de pobreza porque as pessoas que têm dinheiro teriam que dividí-lo com os outros e isso é inadmissível no American Way Of Life ( o que está em voga até hoje). Bom, e há tráfico de drogas no Rio de Janeiro porque há clientela. E vai dizer que é gente do morro que sustenta o crime? Claro que não, são pessoas ricas e turistas. Não tem jeito de pobre sustentar economicamente nada em lugar algum. Só se vê pobre ferrado de drogas na Cracolândia: aquilo, sim, é a derrota total. Portanto, nesse parágrafo conclui-se a origem e o sucesso do tráfico de drogas no Rio de Janeiro, caro leitor.

A pobreza é fundamental para o tráfico de drogas, pois, para existir o negócio, é preciso quem se sujeite a fazer o serviço: os que não tem onde cairem mortos, os infelizes. Aí fica fácil: o traficante dá uma grana e proteção pro manezão que vai atuar na área, fazendo a contabilidade, a logística. O boa-praça, o boa-pinta, o endinheirado sobe o morro de carrão, pega uns pacotes caprichados e desce feliz da vida porque vai encher o nariz de pó e os narizes dos amigos e amigas nas festas. Isso acontece centenas de vezes por dia, todos os dias. E a droga é cara, não pense que fica barato. Mas pobres são seduzidos a trabalhar nessas condições, e muitas vezes são crianças.

Com a determinação de pontos principais de distribuição nos morros, fica fácil estabelecer limites territoriais: o próprio morro. O morro é posse do traficante: e todos os que lá estão. As pessoas que moram no morro são protegidas, são a comunidade. Um sentimento de família se cria para com todos os pertencentes a comunidade. Porém, nem todos os membros da comunidade são a favor do narcotráfico.

Às vezes, dá a impressão de que nunca as autoridades fizeram nada. O buraco é mais embaixo: os interesses vão além. Membros da polícia já estiveram envolvidos em subornos e até em participações diretas de narcotráfico. Então, nesses casos, é fácil ver que o problema da polícia era a própria polícia.

Finalmente chegam as Forças Armadas para combater e retirar dos mercenários seus territórios conquistados durante décadas. É fato que essa investida será intensa e lenta. Muitos daqueles homens dos morros já morreram e muitos ainda vão morrer, eu espero. Mas a torcida maior é pela tomada dos territórios e nem tanto pelas mortes de traficantes e laranjas. Pois, se for retirado o território de chefes de bando, não há como resistir a assaltos da lei. O Exército veio pra subir o morro.

E é por isso que o Rio de Janeiro continua a mesma coisa do que antes: continua com gente rica, com gente pobre, com gente viciada em drogas, com traficantes. O Rio só está diferente para quem não o conhecia por inteiro. Ah, o exército e a marinha são de lá também. Nada mudou.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Quando ninguém precisava de relógios (parte final)

Otacílio comprou e leu. Preferiu enrolar o papel, por no bolso e atravessar a rua antes da charrete. Pegar bafo de cavalo na chuva ninguém merece. Chegou à casa todo respingado. Releu atentamente aos escritos do garoto, após outra e mais outra dose de aguardente. Lembrou-se do querosene e acendeu a lâmpada. Estava já escuro e frio. Foi quando levou a lâmpada para a cozinha, cortou um pedaço de Gouda para comer com pão e café frio, era o jantar. Voltou para a sala e alguém bateu à porta.

- Quem bate? – ao que ninguém respondeu.

- Não conheço surdos-mudos, portanto, V. Senhoria não é bem-vinda à minha casa. Queira se retirar, por favor.

       Mais uma vez, três batidas no peito da celulósica barreira. Dessa vez com muito mais força.

- Escute criançada, eu vou abrir. Se for traquinagem, garanto que dou-lhes um apanho que não será palmadinha.

      Otacílio abriu.

- De quem se trata?

- Olá, sou eu mesmo. Tenho vários nomes. Pode chamar-me Belzebu.

- O que desejais? Essa não é hora adequada para visitações da vida alheia. Inda mais na chuva. Anda, pode voltar amanhã! Não se preocupe, estarei aqui. A partir das 10h estarei no bistrô central, vou ter com o Prestes, o advogado. Preciso receber uma quantia que me atrasaram. Podereis vir antes disso. Passar bem.

- Senhor Otacílio, acho que não estais a reconhecer-me. Não posso voltar amanhã, nem dia algum. Vim resolver umas questões existenciais.

      Otacílio, impregnado de aguardente, não o deteve. Tão logo, não se opôs à entrada do Mentiroso.

      Sentaram-se e logo o chifrudo veio a dizer:

- Quero vossa alma, homem de princípios.

- Sinto muito, mas eu gostaria que fosse direto ao ponto, caríssimo Belzebu. Já são horas altas e gostaria de descansar. Amanhã terei um dia agitado. Mas para não fazer desmerecimento de vossa inusitada presença, brindaremos, como mandam os costumes. O trem das 20h já vai passar. – após preparar duas doses cavalares com copos grandes, serviu a bandeja, brindando a chegada do ilustre – Um brinde a vós, tardio visitante. Saúde! – ao que o outro também disse – saúde!

       O assunto começou a incomodar profundamente a Otacílio quando o Cousa Ruim disse que o tempo precisava ser preenchido por completo, para não haver tempo ocioso. Levantando-se do sofá, nervoso e muito bebido, meio espalhafatoso, Otacílio disse:

- Não, isso não. Eu tenho o meu tempo e não abro mão dele, de forma alguma, meu caro. Estou muito bem de vida assim, agradeço esta sugestão.

- É assim que funciona, amigo: seríeis mais rico para ter tudo o que vos for vontade.

- Eu já tenho tudo o que quero. Inclusive o dinheiro, mas este atrasou por causa de um embargo das cargas na capital. Felizmente já foi tudo solucionado e meu advogado já tomou as medidas. Receberei, no mais tardar, semana que vem. Até lá, tenho minhas reservas que trago desde maio. Não preciso de mais do que isso.

       A conversa se alongou, o trem das 20h passou, Otacílio serviu mais uma dose de aguardente ao Lorde da Discórdia. Otacílio mostrou-se firme e forte em sua convicção de que o tempo é esse, se precisar mudar, ele muda. Mas se não precisar, não muda.

      O Diabo interagiu com força:

- Então fique Vossa Senhoria a par das coisas, bom homem: tudo isso que existe está contado, tudo. Os dias de calma findarão, meu caro. Homens serão tão ricos quanto monarcas jamais imaginaram ser um dia. Tudo e todos que conheceis hoje serão passado. E os meus desígnios serão vividos por todos; a Discórdia vai preencher como água as relações humanas. – o satânico ser mediu com o polegar a quantia de aguardente no copo e virou-o, tomou o derradeiro golpe da cana. O Capeta soluçou e sentiu que o teor do seu hálito etílico amargava sua doce atitude de mentiroso. Otacílio viu o azedume no olhar vazio do embriagado anjo decaído.

       Prostrado de sentimentos e humildade inabaláveis, Otacílio encaminhou o triste e abalado Belzebu para a porta, enquanto o mantinha apoiado em seu ombro. Encostar-se em Satanás traz um cheiro característico, possível apenas tirá-lo com banho de boas ervas. Desceu pela escadaria de madeira. O silêncio era impossível. Os murmúrios imbecis do visitante, o pisar dos cascos na escadaria e o ofegante respirar de ambos levavam os outros moradores do edifício a pensarem que o próprio Minotauro tinha saído do seu Labirinto.

     Chegando à marquise do prédio, Otacílio recostou o traste na parede e lá ele ficou escorado com a cabeça chifruda cambaleante, murmurando.

- Andai, Diabo, tomai Vosso rumo porque o meu contato convosco termina acó. Andai pela tempestade para que essa vossa alma aflita seja limpa. Confiai na chuva, ela é limpa.

       Belzebu entendeu a mensagem. Continuou escorado após uma tentativa frustrada de erigir-se. Um joelho dobrou-se e quase caiu. Apoiou-se mais uma vez em Otacílio, que o devolveu desta vez ao poste que havia defronte. O cabisbaixo demônio olhou para cima para ver a intensidade das gotas de água. Aprovou. Encheu o peito, bufou, encheu mais uma vez e erigiu-se, voltou-se para Otacílio e despediu-se. Belzebu limpou o excesso de água da cara. Lamentou-se sozinho. E deu o primeiro e o segundo passos. Andou. Seguiu vacilante pela rua, que molhada de chuva, ofuscava o olhar do ébrio. Otacílio ainda disse:

- Belzebu, se precisardes tomar um trem, é melhor que caminheis rápido.

      Otacílio voltou para casa, recolheu-se. Com a cabeça já repousada, sentiu o ambiente, parou por segundos e, então, o trem das 21h30 deu seu apito. Otacílio dormiu tranquilamente ao som da chuva inesperada daquele setembro. Otacílio bem sabia quem era o visitante e descansou feliz por tê-lo despachado mais uma vez, dentre muitas. Aquele traste todos os dias batia a sua porta e todos os dias voltava para o inferno com o rabo entre as pernas. Na rua, Belzebu cambaleou até não ser mais visto.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Fora, Patrão!

"O início do fim é sempre discreto". Um abraço do não-eleitor aqui do Zé Serra, cabisbaixo e inconsolável candidato,

que foi derrotado depois de abandonar o próprio navio. A troca com trôco, foi do certo ao duvidoso. O seu Zé perdeu a eleição.

Tia Dilma vai ser mamãe. De um monte de filhinhos que se recusaram a adotar o papai-patrão, parabéns imãozinhos e companheiros pela aquisição da liberdade, ainda que tardia, conforme o ideal inconfidente e revolucionário da França no Brasil

Quando ninguém precisava de relógios (parte 2 de 3)

Saindo de casa, foi cautelosamente à bodega ter com o Vicente, filho do Farias, Dono do estabelecimento. Vicentinho tinha em torno de dez anos e tinha paixão por notícias de jornal. Escrevia precariamente suas idéias mirabolantes sobre vários assuntos, entre eles A Doença dos Trens, Chuvas paralisam setor Ferroviário, Maquinistas Loucos, Cidadãos revoltados com Trens Pouco Atraentes. Era um menino muito conversador que adorava pensar e escrever sobre qualquer coisa que fizesse outras pessoas lerem e pensarem, ao ponto de mudarem suas concepções de mundo. Incrível isso para alguém com apenas dez anos.
Ao entrar na venda, Otacílio logo viu o garoto com sua boina e seus apetrechos de jornalista ao fundo do local, longe da chuva e dos respingos, enquanto o pai calculava preços para um casal muito bem vestido, com seus chapéus e uma umbrela.
- Boa tarde! – saudou Otacílio a todos lá dentro – mas que tempo é esse, meu Deus do céu?
- Boa tarde! – respondeu o casal timidamente sem virar o rosto para o protagonista.
- Muito boa tarde, Sr. Otacílio! – respondeu o José Farias – À vontade e chame-me se precisar. Não vos acanheis!
- Vim ter com o garoto Vicente. Soube de uns rumores que andam por aí. Acredito que ele saiba melhor do que eu.
Virando-se para o filho, Sr. Farias enfureceu-se:
- Vicente Armando Goulart Farias! O que anda V. Senhoria espalhando por aí, mais discórdias e heresias? – disse ele bravo, mas num tom sarcástico e carregado de gestos pedagógicos para a criança.
- Desculpe-me papai, mas há um equívoco. Não existe boato algum. Ao senhor Otacílio eu posso dizer a mesma coisa. – o garoto continuou, levantando-se da cadeira e impondo seu pequeno porte - Estive lendo, por estas manhãs setembrinas, a Gazeta Nacional. Fiz uma espécie de análise do período e fiz algumas previsões para o que eu posso chamar de Mudanças Cruciais no Modus Operandi. O que se lê no que escrevo é simplesmente análise, análise, digamos, estrutural da mudança do modo, que é o que eu sinto estar prestes a acontecer. E é melhor se preparar para comprar já o seu relógio viu, papai!
A fala do garoto pasmou a todos no local. O casal que estava de saída tinha até parado para ouvir – espantou-se. Otacílio não acreditava, suava. O pai logo disse, após ajeitar o bigode, “já falei para parar de mexer com coisas de adultos e ir logo brincar com os do seu tamanho, garoto. Guarda esses tinteiros e os papéis. Anda!” Otacílio não suportou aquela verdade toda e lá já se passaram alguns minutos, ao que o garoto organizou suas bagunças e entregou um panfletozinho, cobrando a bagatela de $8,00. Otacílio ralhou:
- Pro diabo, tu, Vicente! Vai me cobrar um oitão? Sr. Farias, censura-o, por favor!
- Vejo que não posso fazer muita coisa por V. Senhoria. É o preço do garoto... De fato ele gastou muito tempo pesquisando para produzir os escritos. – disse o pai, orgulhoso por ver o filho impondo seu preço.
- Dê-me uma boa justificativa para eu deixar morrer um oitão na sua pequenina mão, Vicente, só uma!
Com um ar de altivez e certo do que diz, ao colocar um pedaço de régua dentro do saco, respondeu com segurança e com gestos infantis:
- Meu caro Otacílio, o preço é pouco, o mínimo que pode ser dado em troca de algo que se tornará o registro primeiro de uma futura crise. Lembrar-se-á disso, meu senhor!

Otacílio comprou e leu. Preferiu enrolar o papel, por no bolso e atravessar a rua antes da charrete. Pegar bafo de cavalo na chuva ninguém merece. Chegou à casa todo respingado. Releu atentamente aos escritos do garoto, após outra e mais outra dose de aguardente. Lembrou-se do querosene e acendeu a lâmpada. Estava já escuro e frio. Foi quando levou a lâmpada para a cozinha, cortou um pedaço de Gouda para comer com pão e café frio, era o jantar. Voltou para a sala e alguém bateu à porta.


[NÃO PERCA O FINAL: QUEM BATEU À PORTA DE OTACÍLIO? ALGUMAS SURPRESAS ESPERAM POR VOCÊ! FIQUE LIGADO!]

sábado, 30 de outubro de 2010

Como assim? [ I ]

Como assim é negado aos alunos o direito de escrever com modos regionais de falar e gírias se a própria Academia Brasileira de Letras exalta Guimarães Rosa por seus neologismos e seu regionalismo?

Outra dúvida é: por que as crianças, então, precisam aprender a norma culta da língua se um dos mais renomados escritores vivos é o Paulo Coelho? Pois, para mim, ele fica entre o persuasivo e o melindroso nos seus escritos.

Diga-me se não é isso meio contradiatório e incoerente em um sistema que cobra a coerência dos mais jovens!

sábado, 23 de outubro de 2010

Pá e bola 1

[...]

     Iron Maiden, não tem como negar, é, sim, uma banda de tradição invejável. Não é à toa que se mantém na estrada a mais de 30 anos, com tropeços e retomadas. Milhões de pessoas ao redor do globo, durante esse tempo, motivaram-se a fazer algo embaladas pelos ricos refrões e teminhas pegajosos do grupo inglês. Todavia, é verdade também que, apesar de não estarem inseridos em um estilo musical específico - talvez fundando o próprio gênero Iron Maiden de Rock - e serem pioneiros da NWOBHM, pecam em novos sons. Sons que estão mais puxados para o progressivo do que para a interpretação punk, como fora no início da carreira. O olhar introspectivo e crítico do líder, Steve Harris, levou o conjunto a produzir canções mais românticas. O problema não é evidentemente esse, mas, sim, o fato de várias músicas terem introduções parecidas com trilha sonora de programas como o Repórter Eco, exibidos desde a década de 90, pela TV Cultura.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Quando ninguém precisava de relógios (parte 1 de 3)

Era o Otacílio sentado no sofá. Muito tranqüilo coçando o olho direito enquanto lia trechos de Ilíada. Quer leitura mais tranqüila? Não se incomodava nem mesmo com os trens que passavam a duas quadras do apartamento, naquele sufocante serpentear sobre trilhos que nunca se atrasa. Após cada movimento ferroviário, Otacílio falava baixinho “14h30”, “16h”, “18h30”.

A vida daquela vizinhança era de qualidade invejável, já que ninguém gastava dinheiro com relógios, visto que os trens nunca se atrasavam e sempre passavam de hora e meia. Exceto nas madrugadas de sábado que, da meia noite às 5h, passavam a cada duas horas e meia, sendo o de passageiros da meia noite, o de carvão das 2h30 e o de grãos de café, trigo e feijão às 5h. Dá pra perceber que a vida da localidade era muito melhor assim do que com os relógios. Dava a impressão de que “o tempo acontecia”. Os habitantes nunca se atrasavam.

E Otacílio teve vontade de preparar uma bebida. Desceu à bodega e comprou uma garrafa de aguardente. Para ele, compensava comprar toda a garrafa do que pedir uma dose, já que uma dose na bodega do Farias custava $ 2,50 e a garrafa toda custava $ 5,00. Subiu as escadas e sacou a rolha ao chegar. Limpou o copo ideal e mediu a quantidade certa não com os olhos, mas com os ouvidos, ouvindo o sonzinho do copo enchendo, conforme caía o líquido de certa altura. O som da aguardente enchendo o copo lhe trazia o prazer que logo em breve seria saciado. Amortecer os lábios com ela, depois terminar de ler o volume no sofá, e esperar o trem das 18h30 passar.

Tomou salivosamente sua aguardente, apenas uma dose, não precisa de pressa. A leitura foi retomada com prazer e evolução, era envolvente. O olho coçou mais uma vez. A lâmpada estava desligada e o sofá perto da janela. O dia não estava tão luminoso como se podia esperar, mas também não estava escuro. A janela disse ao Otacílio: “vai chover, Otacílio”. O nosso amigo foi à janela, olhou lá fora, e parou um pouco. Reparou na bodega, nas casas ao lado. Ao longe reparou nas curvas que os trilhos faziam até sumirem no relevo aplainado pelo tempo. Reparou que o menino continuava a dar descontos em seus panfletos recém-escritos sobre os boatos da invenção de uma máquina mais divina que o trem. Otacílio gritou de lá de cima: “Ei, Vicente, menino Vicente! Não vou descer agora. Guarde um exemplar para mim, tudo bem, jovem agitador?” Otacílio fechou a janela após receber um pingo na língua enquanto falava.

Havia tempo para tudo, inclusive para ser perdido. Imagine que há o tempo de tudo durante o dia. Você pode escolher preenchê-lo, como também pode optar por deixar uma parcela dele para que você o mate. Pois bem, Otacílio escolheu a segunda hipótese. Matava o tempo como ninguém, mas mesmo assim ele ouvia os apitos e os estrondos dos trens, verdadeiros uivos das aproximações dos lobos a assustar e alertar as pessoas indefesas. Otacílio pegou a garrafa novamente e recebeu mais um golpe da cana.

Ao virar-se para a porta, esperou estático por segundos como se percebesse que algo fosse acontecer. Movido de uma sensibilidade próxima do sobrenatural, virou-se repentinamente para a janela fechada e, em posição de estalar os dedos. Estalou os dedos ao mesmo tempo em que o trem se anunciava, sincronicamente. Para ele, natural; para nós, surreal. Eram exatamente 18h30.

Saindo de casa, foi cautelosamente à bodega ter com o Vicente, filho do Farias, Dono do estabelecimento. Vicentinho tinha em torno de dez anos e tinha paixão por notícias de jornal. Escrevia precariamente suas idéias mirabolantes sobre vários assuntos, entre eles A Doença dos Trens, Chuvas paralisam setor Ferroviário, Maquinistas Loucos, Cidadãos revoltados com Trens Pouco Atraentes. Era um menino muito conversador que adorava pensar e escrever sobre qualquer coisa que fizesse outras pessoas lerem e pensarem, ao ponto de mudarem suas concepções de mundo. Incrível isso para alguém com apenas dez anos.

[Acompanhe o blog para saber o restante da história de Otacílio]

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Tiririca é do balacobaco

     Ói nóis 'qui travêis! Ôxe, Tiririca agora até na política, meus amigos. É, parece que foram fundo mesmo nessa história de Ficha Limpa: elegeram alguém com ficha praticamente em branco, não tinha nada nela, nem letras. Evidente, pois o candidato é analfabeto.
Sim, minha gente sorridente, falo do palhaço Tiririca, eleito nesta semana com recorde de votos para representar a população na Câmara.

     Bem, não vou me esticar aqui pra não perder a graça e a piada. Ria enquanto pode, bom e fiel eleitor do Tiririca, seus dias de deboche estão contados. Daqui a algum tempo eu volto a perguntar onde está a piada.

     Quem ri por último, ri melhor.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

DE INDEFESVS MORTE - A morte do indefeso

Fui solicitado a responder à pergunta "A infância acabou ou mudou?", do querido Último Pensamento. E então eu disse:

A infância acabou. Os "adultos" não querem se culpar. Não querem culpas para seus fracassos existenciais ou não querem por a perder as riquezas que acumularam durante a "vida". Julgam que as crianças, num pensamento protecionista, devem aprender a tomar conta do que é deles, dos pais, para, no futuro, também não aproveitarem essa riqueza, guardando-a e passando-a de geração em geração, como se fosse um "tótem", um monumento social (porém, abstrato) chamado patrimônio de família, aquilo que em torno do qual se valem as "vidas" dos componentes do clã envolvido. A tal da fortuna, a sorte na vida vem da competência. Mas de quem?

Sabe-se lá desde quando não se tem mais infância no mundo. A magia da descoberta ao acaso das sensações, da não-obrigação, da não-norma, do não-certo, do não-malicioso, etc (não-). Digo "não-" por haver a ausência do conceito e pelo comportamento poder ser considerado pré-conceptista empirista, do discernir pela prática (conveniente ou não), do "perceber pela prática a partir do exato instante do contato". Saber: estímulo cognitivo à memória racional. Crianças devem ser treinadas em Saber, conhecer. Mas antes elas precisam Aproveitar, Tocar, Experimentar, Sentir - O que não se faz em 5 anos! A infância termina quando a criança tem que saber mais do que sentir e gozar sozinha esse sentimento que é o próprio corpo em que ela se inseriu como mente. Conhecer-se, para depois conhecer o mundo.



Acho que alguém, no passado (faz um tempinho aí) disse "Conhece-te a ti mesmo..."



Pimba! Tá aí, a infância acho que é o conhecer e aprofundar-se sem concepções dentro dos (i)limites do próprio ego, o eu infantil vazio e incolor, insípido e inodoro. A água! O líquido, o mutável. O paulatino viver de movimentos mais paulatinos ainda do que o primeiro. Sem o contar dos segundos, pragas mortais. A infância termina quando se aprende a ver as horas.

E não há infância boa ou infância terrível: OU SE TEM, OU NÃO SE TEM!

E a infância, pelo que percebo, tem terminado cada vez mais cedo...

Palmas para os "adultos" que não foram crianças, assim como Adão. Aplausos aos Conhecedores de Tudo e Ignorantes de si.



Adultos devem ser imponentes, para carregar o mundo nas costas, assim como Atlas, no Clássico, que o faz sem titubear.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Opa! toillet...

Ô, gente, desculpa mesmo. Vou precisar ir ao reservado porque me sujei. É sério.
           Na semana pré-eleições é muito complicado: se você não tomar cuidado, acaba se impregnando de porcarias. Essa semana fui ao médico duas vezes fazer lavagem dos ouvidos. Ele disse que tirou algo que tinha cheiro e consistência de cocô. Não ria não, amigo leitor, é sério! Sabe o que eu respondi pra ele? Eu disse assim: "Doutor, é cocô mesmo porque eu vejo, leio e principalmente ouço talaricos o dia todo querendo o meu voto na urninha".
          Mas eu tenho uma reclamação a fazer... ah, tenho!
Senhores candidatos, antes de qualquer coisa... aliás, senhores candidatos e eleitores também, antes de ir pra sua seção no dia D, vai lá no banheirinho da sua casa, acende a luz, faz um nº1, faz um nº2 bem tranquilinho. Depois, limpa bem, mas bem mesmo, se precisar, toma aquele banhinho. Vista uma roupa leve e esvoaçante e entra na fila pra votar. Sabe pra quê? Pra não fazer caca no dia. Se você for eleito, todos os dias, antes de sair de casa, faça corretamente as suas necessidades, sem medo de ser feliz. Ninguém é obrigado a aturar a sujeira dos outros né. Quer zuar tudo, faz na sua casa, depois sim você pode sair pra rua livre e desimpedido.
          Outra coisa importantíssima: Muito cuidado com a higiene das mãos. O eleito, muitas vezes, pode colocar a mão onde se pegam muitos micróbios, como móveis das repartições públicas, apertos de mãos de muitas pessoas durante o dia, papelada, lápis, canetas, telefones, chave do carro, cafezinho, dinheiro (barulhinho de $$ ), catálogos, documentação, etc. Nesse trânsito todo de pega daqui, solta dali, vem pra cá, fica acolá, vai ficando uma Babilônia microscópica na mão. Memorandos, cadernetas, agendas, notebook... Nossa! Vamos usar da limpeza e transparência. Lencinho, flanelinha, sabãozinho, água corrente e muita assepsia. Vamos lá, né! Pô, colabore! Precisamos de tudo limpo, inclusive ficha limpa!